Depoimento de ex-alunos (Laval)
Olá pessoal, desculpem a demora para escrever este depoimento, mas eu queria esperar completarmos nosso primeiro ano, assim poderia compartilhar melhor nossas experiências e a adaptação aqui. Vou fazer primeiramente um breve resumo de como viemos para Montreal e de como foi nosso processo, para melhor ambientar nossa realidade aqui, e após isto tentarei descrever nossa chegada aqui, os primeiros desafios e dificuldades e também os erros neste primeiro ano, afinal “O tolo apende com seus erros, e o sábio com os erros do tolo”.
Em 2013 estive em Toronto estudando inglês por 2 meses e quando retornei ao Brasil descobri que o Canadá era meu lugar, não apenas pela qualidade de vida ou pela segurança do pais, mas principalmente porque me identifiquei muito com a cultura daqui, com a educação do povo, com o respeito pelos outros, enfim o que mais me incomodava no Brasil.
Sou graduado em Engenharia da Computação e trabalho já a muitos anos com desenvolvimento de sistemas, uma área que aqui no Canada tem demanda incrível. Minha esposa é graduada em Dança e tem uma longa experiência na área de educação infantil. Temos 43 e 42 anos respectivamente, o que não ajudava muito na hora de acumular pontos para imigrar.
Estudamos as diversas opções de imigrar para cá, e acredite são muitas, e com base no mercado de trabalho para minha profissão, acabamos escolhendo o Quebec, pois aqui as oportunidades profissionais eram muito melhores. Então em 2014 começamos a estudar francês no Centre Quebec, e a pesquisar e conhecer melhor as opções de imigração, mais especificamente o programa provincial (Mon Projet Quebec), a opção de estudo e posterior residência (PEQ Estudos) e a de trabalhador qualificado temporário e posterior residência (PEQ Trabalho). Ë muito importante se preparar e traçar uma boa estratégia de imigração, com planos B e C também.
Ao final de 2016 decidi vir a Montreal fazer um curso intensivo de francês (25 horas por semana) e ao mesmo tempo aproveitei que estava aqui para tentar conseguir uma entrevista de emprego em alguma empresa daqui. Mas não se iludam, foi um tiro no escuro e a longa distância, meu objetivo concreto mesmo era melhorar bem meu nível de francês, tentar o TEFAQ aqui (tem toda semana em algum College) e quem sabe com sorte obter o nível exigido para o processo de imigração. Enfim, dei mais sorte que juízo, consegui uma entrevista em minha última semana aqui e a empresa topou solicitar um visto de trabalho temporário para mim, isso não é comum, mas além de se preparar as vezes também precisamos contar com a sorte.
Voltei ao Brasil em novembro de 2016, em fevereiro de 2017 recebi da empresa os papeis para dar entrada em meu visto, e em junho de 2017 recebemos o visto, foram os oito meses mais longos da minha vida até hoje. Em 17 de julho de 2017 desembarcamos em Montreal, e agora sim, vem a parte que sei vocês estão mais interessados.
Na chegada, tudo é incrível, você ainda está naquele clima meio férias, meio sonho, meio lua de mel, e meu conselho é “Aproveitem ao máximo esse período! ”. Chegamos e a primeira coisa foi ir ao Services Canadá fazer nosso Número de Seguro Social (SIN inglês ou NAS em francês). Esse é seu CPF aqui, com uma diferença, você não sai passando ele para qualquer um. Primeiro choque, chegamos no Services Canadá e fomos atendidos por funcionários públicos atenciosos e educadíssimos, que estão mais do que preparados para lidar com nossas dificuldades de imigrantes, afinal não é apenas a língua que é diferente, tudo é novo para você. Em 30 minutos já estávamos com o NAS em mãos e prontos para a próxima parada, o banco.
Com o NAS fomos abrir nossa conta no banco, já havíamos escolhido abrir a conta no Desjardins, por ser um banco bem presente aqui no Quebec, mas quase todos os bancos têm produtos para os recém rechegados (Newcomers ou Nouveau Arrivant), sejam trabalhadores temporários, estudantes internacionais ou residentes permanentes. A abertura da conta demorou um pouco mais, mas no mesmo dia tínhamos os cartões de débito, e uma referência bancária. Os cartões de crédito levaram 1 semana para chegar.
Aqui vale uma explicação, no Canada existe o histórico de crédito, o SPC positivo que tentaram fazer uma vez no Brasil mas não foi aprovado. Acontece que um recém-nascido aqui tem mais histórico de crédito que você, recém-chegado, porque os pais dele tinham histórico e os seus não. Então basicamente seu histórico é zero, o banco vai lhe fornecer um cartão de credito com um limite de uns 500 dólares canadenses, e quanto mais você usar e pagar esse cartão, melhor seu histórico vai ficando. Pague TUDO com o cartão de credito, quando acabar o limite, efetue um pagamento antecipado do cartão e continue usando o cartão. Porque cartão de débito NÃO entra no seu histórico de crédito. Seu histórico servirá no futuro quando for comprar um carro, moveis para a casa, alugar um apartamento, enfim em TUDO.
Com a conta no banco o próximo passo foi o celular, ou melhor o chip. Sim porque sabe aqueles planos onde você ganha um iPhone 8 (ou um Galaxy S8), então, eles são para quem tem histórico de crédito (começou a entender né?). Mas ter acesso a internet para usar o Google Maps e poder ver qual ônibus pegar, é vital, principalmente para o próximo desafio: alugar um apartamento.
Achar um apartamento aqui não é tarefa fácil, porque os melhores NÃO estão nos sites na internet. Isso mesmo, os melhores estão apenas com uma placa de aluga-se na janela, e normalmente você descobre eles andando pela cidade ou por indicação. Nós demos sorte, recebemos a indicação de um amigo e o senhorio nos aceitou mesmo sem histórico de crédito. Moramos em Laval, que é na região metropolitana de Montreal, pois meu trabalho fica em Laval. Morar bem localizado em relação a transporte público e acesso ao seu trabalho é sinônimo de qualidade de vida aqui. Nós moramos próximos à estação de metrô Montmorency, 20 minutos de caminhada para ser mais preciso, e passam 3 linhas de ônibus em frente a nossa casa. Em 35 minutos chegamos ao centro de Montreal, e pegando 1 ônibus em 10 minutos estou no meu trabalho.
Os contratos de aluguel aqui são muito bem regulamentados pelo órgão competente (Regie du Logement Quebec) e normalmente eles usam o formulário de contrato padrão para locação, que você pode comprar nas papelarias. Dica preciosa, olhe bem as janelas e portas de sacada do apartamento, quando elas estão velhas não vedam direito o frio no inverno, o que significa um bom gasto a mais com energia para o aquecimento. A gente diz que aqui apartamento tem de cheirar, e isso é verdade, porque algumas pessoas fumam ou tem cachorro no apartamento, e ele fica fechado por 6 meses no inverno, então o cheiro impregna nas paredes e na casa.
Coisas do dia a dia você acaba tendo de descobrir experimentando, como onde comprar frutas e verduras, onde comprar carnes, qual o melhor mercado para as compras maiores, e essas coisas. Também acaba descobrindo a rotina que melhor se adapta ao seu ritmo e seus compromissos, mas o importante é reservar tempo para aproveitar o que a cidade lhe oferece. As cidades aqui sempre têm atividades abertas e muito interessantes, e o melhor, as pessoas vão e participam com toda a família. Participar disso vai lhes ajudar a se integrar, a se sentir acolhido e a se adaptar mais rápido e facilmente.
Não se isole, e mais importante não se isole dentro de grupos de brasileiros. Claro que temos amigos brasileiros, mas estamos em um lugar com gente do mundo todo, com centenas de culturas diferentes, e seria um desperdício imperdoável não aproveitar esta oportunidade única e conhecer eles. Portanto temos também amigos do Canada, da Venezuela, da Moldova, da Rússia, de Cuba, da Índia, e de onde mais pudermos alcançar.
Após nos estabelecermos no apartamento o próximo desafio foi achar escolas de francês, públicas ou ligadas ao ministério da imigração, que nos aceitassem nos programas de francisação. Isto porque a grande maioria aceita apenas quem tem a residência permanente, e no nosso caso temos vistos de trabalho temporário. Fazer a francisação é muito importante, mesmo que você tenha um ótimo nível de francês, porque eles abordam não apenas os aspectos da língua, mas também assuntos do cotidiano de quem mora aqui, como: serviços de emergência, aluguel da casa, serviços educacionais, alimentação, artes e cultura local, etc. Ou seja, a francisação é mais uma ajuda no processo de se ambientar aqui, e de fazer contato e amizade com outras pessoas.
Os contrastes aqui no Canada são incríveis, ao mesmo tempo que você vê tecnologia de ponta em coisas do dia a dia, principalmente naquilo que faz diferença na sua vida, você se depara com um serviço provincial que vai lhe enviar um formulário por correio em 10 dias para que você possa dar entrada na sua carteira de seguro de saúde. As pessoas aqui planejam suas coisas com muita antecedência, quando estamos na primavera as lojas já estão com os produtos de verão a venda, e no meio do verão já temos liquidação de produtos de verão, sim porque a maioria já comprou antecipado o que queria. As pessoas não têm por hábito ostentar, elas até pagam mais caro um produto, mas porque ele provavelmente vai durar muitos anos, e sim, elas o usarão por muitos anos. Os casacos de inverno são um ótimo exemplo, eles podem até pagar 300 dólares em um casaco, mas normalmente ele será o único e eles o usarão por muitos e muitos invernos seguidos (uns 10 anos no mínimo).
Enfim, o maior segredo para se adaptar bem aqui não é o que você faz depois que chega, mas algo já fizemos antes de sair do Brasil. Nós limpamos nossas mentes, e nos propusemos a chegar aqui e reaprender tudo novamente, desde a alimentação até nossos planos de longo prazo. Viemos como bebes, abertos a aprender tudo do início. Sem preconceitos, sem ideias rígidas, sem sonhos idealísticos, mas com o objetivo de nos tornarmos verdadeiramente canadenses. Adotamos esta como nossa nova casa, e mais importante, nos deixamos adotar por ela.
Desculpem o longo texto, mas espero ter lhes ajudado. Desejo a todos Boa Sorte na realização de seu sonho e estou à disposição para quem quiser mais detalhes sobre nossa jornada.
Abraços
Cristiano e Mari